quinta-feira, março 28, 2024
InícioÁrbitroUma chegada polêmica e decisões sem sensatez

Uma chegada polêmica e decisões sem sensatez

O vídeo a seguir foi publicado no Facebook e amplamente divulgado. Ele retrata a chegada da prova dos 50m livre infantil 1 masculino, durante o Campeonato Brasileiro Infantil de Inverno – Troféu Ruben Dinard de Araújo, realizado no dia 27 de junho na piscina da UEPA, em Belém, Pará:

Filmado pelo pai do atleta  Bernardo Brandão, que nada na raia 3 (a raia na parte superior do vídeo é a raia 0, que está vazia, seguida pela raia 1, com atleta nadando nela), o vídeo foi criado para mostrar a insatisfação dele – e de muitos outros pelo visto – com a definição da ordem da chegada da prova.

Este é o resultado oficial da prova:

Resultado da prova de 50m livre infantil 1 masculino do Troféu Ruben Dinard de Araújo 2015
Resultado da prova de 50m livre infantil 1 masculino do Troféu Ruben Dinard de Araújo 2015

O nadador da raia 2 (2a. raia de cima pra baixo – com nadador nela – no vídeo exibido) foi o campeão da prova.

Mas, pelo vídeo, mesmo que tremido ou com o ângulo da filmagem ou ainda pela qualidade, claramente o campeão não foi o atleta da raia 2.

Imagem congelada da chegada da prova. Notem onde estava o atleta da raia 2.
Imagem congelada da chegada da prova. Notem onde estava o atleta da raia 2.

No placar eletrônico, o vencedor seria a raia 4, enquanto que a raia 2 chegou em 8o. lugar:

Screen Shot 2015-08-17 at 16.59.44
Resultado da prova antes da oficialização: o primeiro número é a raia, e o segundo é a colocação.

Mas após a oficialização dos resultados, esse foi o placar exibido, que aliás reflete o resultado que até hoje permanece:

Screen Shot 2015-08-17 at 17.15.21
Resultado da prova depois da oficialização: o primeiro número é a raia, e o segundo é a colocação.

Existem três coisas a destacar neste singelo caso que, vendo apenas estes itens, é considerado uma injustiça e, na conclusão, um erro grave de arbitragem:

  1. Segundo informações colhidas entre os que estavam presentes na competição, não havia juízes de chegada na prova. Isso não é bem um erro de arbitragem, mas ao abdicar a presença de juízes, o árbitro geral vai confiar no equipamento de cronometragem eletrônica;
  2. Esta alteração que o placar eletrônico sofre no momento da chegada até os resultados oficiais (o momento em que a raia 2 passa a ser o 1o. lugar) é muito comum em cronometragem eletrônica. O tempo exibido primariamente é o tempo obtido pela placa de toque. No computador, todos os tempos são exibidos e nesse caso foram o tempo da placa e o tempo da pêra (única pelo que confirmamos no vídeo). Após julgamento do árbitro geral, o tempo é oficializado entre o da placa e o da pêra, e então o placar eletrônico exibe o tempo corrigido (por isso você ouve, às vezes, o locutor dizer “os tempos do placar são oficiais”);
  3. Não foi confirmado se o árbitro geral julgou o tempo baseado apenas no tempo da pêra (semi-automático, que significa que foi disparado junto com a partida automática, mas finalizado manualmente pelo cronometrista), ou comparou os tempos com o tempo do cronômetro (que também vemos no vídeo que foi utilizado).

Apresentar o vídeo como recurso, como já ocorrido diversas vezes anteriores, é inútil, pois a regra da FINA não aceita recursos baseados com filmagens que não seja as oficiais (além de que a regra é restritiva apenas para Campeonatos Mundiais e Jogos Olímpicos).

Faltou sensatez por parte do árbitro geral da competição ou ainda faltou um melhor argumento do técnico ao conversar com o árbitro geral para rever a decisão (atenção que árbitro geral não aceitará reclamações de pais e atletas, pois apenas o técnico estaria credenciado para agir em nome da equipe, o que ocorre durante o Congresso Técnico na abertura da competição).

Olhando criticamente, o árbitro geral seguiu a regra e até aí não há nada de errado.

O que impressiona é que tanto o atleta da raia 2 quanto seu técnico concordaram com a decisão de colocá-lo como campeão da prova. Se havia alguém que poderia pesar na decisão de reverter o resultado eram estas duas pessoas.

O que, ao que parece, não ocorreu. Ou, se ocorreu, não foi oficializada na CBDA.

E agora, nada mais resta a fazer. As contestações devem ser feitas obrigatoriamente na competição. Apenas as ocorrências relacionadas como violentas é que são julgadas pelo Tribunal de Justiça Esportiva.

Árbitro de Nataçãohttp://www.regrasdenatacao.com.br/
Olá, eu sou o árbitro de natação e adoro discutir sobre regras de natação. Leia, releia, discuta e conheça as regras que movimentam o nosso esporte.
RELATED ARTICLES

1 COMENTÁRIO

  1. Antes do meu agradecimento, preciso parabeniza-los por esta matéria. Talvez assim os árbitros não fiquem míopes e acovardados com a prerrogativa do vídeo oficial. Um pouco de boa vontade e bom senso em assisti-lo na hora , certamente os levariam a pesquisar com mais detalhes as discrepâncias dos tempos. Ai, o vídeo não precisaria ser uma priva contundente, mas apenas um indicativo de que algo estava MUITO errado. Por sorte, a maturidade do atleta Bernardo Brandão , não se abalou com este resultado , pois sabia que tinha chegado em 2o. Pior foi o 3o lugar que não foi devidamente reconhecido e recompensado no pódium e com a medalha. Infelizmente a nossa cultura de Gerson fez com que o atleta e seu técnico ficassem omissos e aceitassem este resultado. Os atletas que foram prejudicados disseram “Impossível ele não saber que não bateu em 1o . A distância era muito grande”. Ao atleta João Pedro, espero que honre a raia 4 no próximo Brasileiro. Se o balizamento não mudar terá que encarar as raias 3 e 5, com o Lucas e o Bernardo, desta vez sem ajuda. Assim esperamos.

Most Popular

Recent Comments

ALCIDES PEREIRA DA SILVA on Vídeo: como é uma virada de costas regular
Lidyane Maciel on As categorias no Brasil
Bruno Gouvea on A saída de mergulho
Guilherme da Silva on Nado borboleta na categoria master
Maria Salete ribeiro on As categorias no Brasil
GABRIELA AMANCIO VELOSO on Como é calculado o índice técnico
Sandra Belarmina da Silva Rodrigues on As categorias no Brasil
Anonimo on Regras oficiais
Victor hugo on A saída de mergulho
Marco Túlio Vichinski Rocha on As categorias no Brasil
Gilson Ataides Rodrigues on As categorias no Brasil
Marcia on Regras oficiais
Fabiana Machado Santos on As categorias no Brasil
José Carlos on Regras oficiais
Eduardo Alvim on Regras oficiais
Marco Batista on Entre em contato!
Marco Aurélio Marques Batista on Entre em contato!
Marco Aurélio Marques Batista on Árbitros brasileiros relacionados na FINA
wendell de oliveira freire on Entre em contato!
luis on Regras oficiais
Erlon Pinheiro on Regras oficiais
paulo roberto de souza on Regras oficiais
Natan Cyrino Volpini on Entre em contato!
Natan Cyrino Volpini on Perfil: Marcelo Falcão
hudson furlanetto silva on Virada errada de costas
Fenelon Vieira de Carvalho on Como é feito um balizamento?
miguel on Regras oficiais
Ninfa Aliaga Tello on Perfil: Marcelo Falcão
arbitro on Regras oficiais
Eduardo on Regras oficiais
Fernando Franco on A saída de mergulho
Fenelon Vieira de Carvalho on Mudanças no nado peito
arbitro on Regras oficiais
Julio Cesar on A posição dos pés
Ronaldo Marra on A posição dos pés
arbitro on Trajes aprovados
celso dolivo on Trajes aprovados
Germano Colling on A posição dos pés
jose estevam simoes on Entre em contato!
Ernesto Lima Filho on Entre em contato!
LUIZ FERNANDO on As categorias no Brasil
Daniel Takata on Swim-off: o que é isso?
Alexandre on A saída de mergulho
Adalberto on Voltando a submergir
Adalberto on Regras oficiais
Andréa Coêlho on Regras oficiais