sexta-feira, março 29, 2024
InícioÁrbitroEntendendo o sistema de cronometragem do Mundial

Entendendo o sistema de cronometragem do Mundial

Publicado originalmente no blog da revista Swim Channel, excelente reportagem abordando a cronometragem eletrônica. Confiram:

https://swimchannel.blogosfera.uol.com.br/2013/07/30/entendendo-o-sistema-de-cronometragem-do-mundial/

A Omega é responsável pela cronometragem das provas de natação no Mundial de Barcelona. Mais do que isso, é responsável pela cronometragem dos Jogos Olímpicos desde 1932, mas não de maneira ininterrupta.

A credibilidade da Omega é algo indiscutível. Não há quem não queira contar com seu sistema. O preço é caro, obviamente. Mas no nosso esporte sua qualidade não tem concorrência.

Estive hoje com Peter Johann Hurzeler aqui em Barcelona, executivo da empresa, para tirar algumas dúvidas sobre o sistema. Há muitas questões como por que os tempos dos nadadores não são medidos em milésimos, ou por que um nadador pode queimar até 3 centésimos que não é desclassificado.

“O sistema tem a precisão de milésimos”, disse ele, sobre a primeira questão. “No entanto, um milésimo corresponde a 1,7 milímetros. Quem pode garantir que cada placa tem a mesma espessura nessa precisão?” E relembrou de um caso clássico. “Nos Jogos Olímpicos de 1972, um sueco e um americano empataram em primeiro nos 400m medley, e a Omega desempatou, dando a vitória por dois milésimos para o americano. A FINA depois achou aquilo loucura, pois disseram que não podem construir uma piscina de 50 metros e que seja tão precisa até os milímetros. Depois disso, os milésimos nunca mais foram utilizados.”

Sala de cronometragem da Omega, no Palau Sant Jordi

Quanto a margem para uma saída falsa de revezamento de 3 centésimos, ele justifica. “Pela precisão do sistema, o nadador ainda está no bloco 27 milésimos de segundo após o sistema ter recebido o impulso. Então a FINA decidiu por essa margem de 3 centésimos em favor dos atletas.” E por que não adicionar três centésimos a todos os tempos de reação e fazer com que todas as reações negativas sejam saídas falsas? “Não seria o modo verdadeiro como o sistema funciona. Para nós, é melhor explicar esse fato, para evitar controvérsias e manter a transparência, e a FINA entende perfeitamente.”

Além disso, para revezamentos e também eventuamente para provas individuais, câmeras são colocadas logo acima dos blocos, para trabalhar em conjunto com o sistema de cronometragem. “Uma câmera normal trabalha a 25 quadros por segundo. Estas, a 100 quadros por segundo. Logo, cada quadro representa um centésimo, que é a margem que trabalhamos na cronometragem.” Na sala de cronometragem, essas imagens estão disponíveis. Ele me mostrou o vídeo da desclassificação do revezamento masculino espanhol 4x100m livre nas eliminatórias. A troca do nadador Markel Alberdi para Juan Miguel Rando foi de -8 centésimos. Em velocidade normal, é impossível notar a saída falsa. Quadro a quadro, no entanto, a irregularidade é absolutamente clara.

Saída falsa do revezamento da Espanha no 4x100m livre masculino

Sistema de câmeras colocado acima dos blocos de partida

Hurzeler disse que o episódio dos 100m livre nos Jogos Olímpicos de 1992, envolvendo Gustavo Borges, em que a placa de sua raia não funcionou e o resultado só foi confirmado depois, foi um escândalo. Naquela Olimpíada, a Seiko cuidava da cronometragem, e o episódio foi determinante para que a Omega se tornasse a empresa de cronometragem oficial dos Jogos Olímpicos a partir da Olimpíada seguinte, em 1996. “Erros como aquele são inadmissíveis.”

Ele também relembra do Mundial de 2001, em Fukuoka, em que a Seiko também cuidou da cronometragem. Muitos problemas, incluindo o não funcionamento da placa do vencedor dos 100m livre Anthony Ervin (fazendo com que Pieter Hoogenband comemorasse muito o ouro e depois passasse pelo constrangimento de saber que não havia vencido) e problemas com desclassificações em revezamentos. “No 4x100m livre feminino, chegou-se ao cúmulo de fazerem a premiação no dia seguinte, pois não conseguiam determinar o resultado.” Depois daquilo, a FINA trocou a Seiko pela Omega, e nunca mais passou por apuros semelhantes.

Em relação a clássica controvérsia da disputa dos 100m borboleta entre Michael Phelps e Milorad Cavic em 2008, em que o americano venceu por um centésimo, ele disse que o servo pode ter chegado primeiro, mas não com a força suficiente. “A placa tem 12 milímetros. Para parar o placar, ela tem que ficar com a espessura de 10 milímetros. Ou seja, a força tem que ser suficiente para apertá-la em 2 milímetros. Cavic chegou deslizando, então ele pode ter tocado primeiro, mas Phelps apertou primeiro a placa. Cavic entendeu que essa é a regra, e não houve problema com isso.”

A Omega tem contrato com a FINA até 2020, e não há razão para achar que não continuará sendo o sistema oficial da natação mundial após isso.

Por Daniel Takata

Árbitro de Nataçãohttp://www.regrasdenatacao.com.br/
Olá, eu sou o árbitro de natação e adoro discutir sobre regras de natação. Leia, releia, discuta e conheça as regras que movimentam o nosso esporte.
RELATED ARTICLES

Most Popular

Recent Comments

ALCIDES PEREIRA DA SILVA on Vídeo: como é uma virada de costas regular
Lidyane Maciel on As categorias no Brasil
Bruno Gouvea on A saída de mergulho
Guilherme da Silva on Nado borboleta na categoria master
Maria Salete ribeiro on As categorias no Brasil
GABRIELA AMANCIO VELOSO on Como é calculado o índice técnico
Sandra Belarmina da Silva Rodrigues on As categorias no Brasil
Anonimo on Regras oficiais
Victor hugo on A saída de mergulho
Marco Túlio Vichinski Rocha on As categorias no Brasil
Gilson Ataides Rodrigues on As categorias no Brasil
Marcia on Regras oficiais
Fabiana Machado Santos on As categorias no Brasil
José Carlos on Regras oficiais
Eduardo Alvim on Regras oficiais
Marco Batista on Entre em contato!
Marco Aurélio Marques Batista on Entre em contato!
Marco Aurélio Marques Batista on Árbitros brasileiros relacionados na FINA
wendell de oliveira freire on Entre em contato!
luis on Regras oficiais
Erlon Pinheiro on Regras oficiais
paulo roberto de souza on Regras oficiais
Natan Cyrino Volpini on Entre em contato!
Natan Cyrino Volpini on Perfil: Marcelo Falcão
hudson furlanetto silva on Virada errada de costas
Fenelon Vieira de Carvalho on Como é feito um balizamento?
miguel on Regras oficiais
Ninfa Aliaga Tello on Perfil: Marcelo Falcão
arbitro on Regras oficiais
Eduardo on Regras oficiais
Fernando Franco on A saída de mergulho
Fenelon Vieira de Carvalho on Mudanças no nado peito
arbitro on Regras oficiais
Julio Cesar on A posição dos pés
Ronaldo Marra on A posição dos pés
arbitro on Trajes aprovados
celso dolivo on Trajes aprovados
Germano Colling on A posição dos pés
jose estevam simoes on Entre em contato!
Ernesto Lima Filho on Entre em contato!
LUIZ FERNANDO on As categorias no Brasil
Daniel Takata on Swim-off: o que é isso?
Alexandre on A saída de mergulho
Adalberto on Voltando a submergir
Adalberto on Regras oficiais
Andréa Coêlho on Regras oficiais